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Lula assegura apoio valioso de Marina Silva

Thomas Milz
Thomas Milz
13 de setembro de 2022

Ao se aliar à ex-ministra do Meio Ambiente, petista reforça narrativa de uma grande reconciliação para fazer frente a Bolsonaro e pode pontuar não apenas na questão ambiental, mas também entre evangélicos moderados.

Marina Silva declarou apoio a Lula nesta segunda-feira (12/09)Foto: Andre Penner/AP/picture alliance

Foi uma surpresa ver o ex-presidente e candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e sua antiga ministra do Meio Ambiente juntos na campanha eleitoral. Para quem não sabe, Marina Silva (Rede), além de ter sido companheira de luta do líder seringueiro Chico Mendes, foi afiliada ao PT entre 1986 e 2009. No governo Lula, comandou a pasta ambiental entre 2003 e 2008 e foi responsável por melhorarias significativas nos índices de desmatamento.

Com o aumento da fiscalização das áreas de proteção, a taxa de desmatamento encolheu de quase 28 mil quilômetros quadrados em 2004 para menos de 5 mil quilômetros quadrados em 2012. Ficou claro pelas falas de Lula e Marina nesta segunda-feira (12/09) que, caso Lula seja eleito, os dois querem voltar a impor uma fiscalização rígida na Amazônia, com tolerância zero para garimpeiros e madeireiros.

Isso é um sinal forte para antigos parceiros internacionais que se afastaram do Brasil por causa da política ambiental de Jair Bolsonaro (PL), como os governos da Alemanha e da Noruega, que financiaram o Fundo Amazônia para combater a destruição da floresta. Também é um sinal positivo para uma reaproximação com a União Europeia e os Estados Unidos de Joe Biden, depois do afastamento durante o governo Bolsonaro também devido à política ambiental.

A adesão de Marina não deverá trazer muitos votos para Lula – após obter quase 20 milhões de votos que como candidata à Presidência no primeiro turno de 2010, e mais de 22 milhões em 2014, ela encolheu para cerca de um milhão em 2018. Mas o apoio da ex-ministra terá um importante impacto na narrativa que Lula está construindo para a eleição de outubro: a da grande reconciliação.

Pois a saída de Marina do governo petista, em 2008, depois de divergências fortes com a então ministra-chefe da Casa Civil Dilma Rousseff e com a política de desenvolvimento da região amazônica, e sua saída subsequente do PT deixaram feridas. Principalmente em Marina.

A situação piorou com a campanha suja do PT contra Marina nas eleições de 2014. Assim, a reaproximação entre Marina e o PT "pelo bem do país" se soma à reconciliação entre Lula e Geraldo Alckmin, seu adversário nas eleições de 2006, que hoje é o vice em sua chapa. É a construção de uma frente ampla dos democratas para derrubar Bolsonaro.

Talvez mais significativo para o pleito de outubro seja o fato de Marina ser evangélica. Nas últimas semanas, Lula tem investido pesado para angariar votos no campo evangélico – depois de ter perdido tempo demais. Assim, viu Bolsonaro abrir uma vantagem de 51% a 28% das intenções de voto, segundo a mais recente pesquisa Datafolha. Na última sexta-feira, Lula foi a um encontro com líderes evangélicos em São Gonçalo para tentar reduzir a desvantagem.

A campanha de Lula também publicou uma cartilha para o segmento evangélico, intitulada: "É tempo de esperança, o Brasil tem jeito: O que os evangélicos realmente querem para o Brasil." 

Desde que se converteu à fé evangélica, nos anos 90, Marina mantém vínculos com a Assembleia de Deus. Para Lula, será um ponto de entrada no segmento evangélico, que em 2018 votou majoritariamente em Bolsonaro. Vamos ver se surte efeito.

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Thomas Milz saiu da casa de seus pais protestantes há quase 20 anos e se mudou para o país mais católico do mundo. Tem mestrado em Ciências Políticas e História da América Latina e, há 15 anos, trabalha como jornalista e fotógrafo para veículos como a agência de notícias KNA e o jornal Neue Zürcher Zeitung. É pai de uma menina nascida em 2012 em Salvador. Depois de uma década em São Paulo, mora no Rio de Janeiro há quatro anos.

O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.

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Realpolitik

Depois de uma década em São Paulo, Thomas Milz mudou-se para o Rio de Janeiro, de onde escreve sobre a política brasileira sob a perspectiva de um alemão especializado em Ciências Políticas e História da América Latina.