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ConflitosSudão

Sudão: Um ano de guerra e de poucas esperanças

Kersten Knipp | Emad Hassan
11 de abril de 2024

O Sudão está em guerra há um ano. A violência parece não ter fim à vista e o país vive uma catástrofe humanitária. A guerra civil já fez mais de 8,5 milhões de deslocados, de acordo com a Organização das Nações Unidas.

Guerra no Sudão
Guerra no Sudão despoletou em abril de 2023 com o conflito entre as forças armadas e os paramilitares das Forças de Apoio RápidoFoto: ohamed Khidir/Xinhua/picture alliance

"O centro de Darfur é um deserto humanitário". Foi assim que Christos Christou, diretor da organização humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF), descreveu, há uma semana, os efeitos da guerra que eclodiu no Sudão há um ano. 

As condições nos campos de refugiados de uma das zonas mais afectadas são terríveis. Há falta de água potável, alimentos e outros bens. As condições de higiene são catastróficas. Na rede social X, apelou à comunidade internacional por mais ajuda.

Dados do Programa Alimentar Mundial (PAM) apontam que cerca de 18 milhões de pessoas estão a passar fome. De acordo com a organização da ONU, a maioria destas pessoas encontra-se em regiões pouco ou nada acessíveis às organizações de ajuda humanitária. 

Militares e políticos responsáveis pela violência

Desde abril do ano passado, dois grandes grupos militares - as Forças Armadas Sudanesas e as Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês) -, bem como milícias e grupos dissidentes, têm estado em conflito no Sudão. O conflito foi desencadeado pela recusa do comandante das RSF, Mohammed Hamdan Dagalo, a colocar as suas tropas sob o comando do exército, apesar de tal ter sido previamente acordado num diálogo nacional.

Mas alguns dos atores civis também são responsáveis pela violência, afirma Othman Mirghani, chefe de redação do jornal sudanês "Al-Tayyar", em entrevista à DW. Apesar do acordo-quadro assinado em dezembro de 2022, alguns atores quiseram fazer valer os seus interesses a todo o custo e, por isso, estabeleceram ligações com os grupos militares do país. 

Refugiados sudaneses no ChadeFoto: David Allignon/MAXPPP/dpa/picture alliance

Destruição sistemática de alimentos

As partes em conflito estão dispostas a aceitar uma catástrofe humanitária em nome da sua causa, diz Marina Peter, fundadora e presidente do Fórum Sudão e Sudão do Sul, em entrevista à DW.

Em muitas zonas do país, os agricultores já não podem cultivar devido aos combates. Além disso, as colheitas e géneros alimentícios estão a ser deliberadamente destruídos em regiões tradicionalmente férteis, como Aljazira.

"As Forças de Apoio Rápido, em particular, estão a incendiar os armazéns de cereais nas zonas que tentam conquistar. Estão também a impedir deliberadamente o acesso à ajuda humanitária nessas zonas", continua Peter.

O papel dos atores internacionais

Há também atores internacionais na guerra, diz Marina Peter. O Egito, por exemplo, apoia as forças armadas sudanesas.

"O governo do Cairo sempre se mostrou cético em relação à revolução pacífica e à perspetiva de um governo civil sudanês. Defende para o Sudão uma forma de Governo semelhante à do seu país, ou seja, uma liderança militar com uma face democrática."

Ao mesmo tempo, o Egito teme que o conflito possa alastrar-se para o seu terrritório. E, preocupado com o abastecimento de água do Nilo, o Governo do Cairo prefere aproximar-se dos que estão no poder. "E, do ponto de vista egípcio, atualmente é Abdel Fatah Burhan." 

De acordo com Peter, as forças armadas também ganharam recentemente um novo aliado: o Irão. "Estabeleceram relações estáveis com o Irão. Estão agora a receber drones do país, por exemplo", explica.

Se, por um lado, o Irão está mais próximo das forças armadas sudanesas, os Emirados Árabes Unidos apostam em Mohamed Hamdane DagloFoto: daniel0Z/Zoonar/picture alliance

Já os Emirados Árabes Unidos apostam em Mohammed Hamdan Dagalo. "Existem reservas de ouro significativas no Sudão", diz Peter. E as vendas ocorrem principalmente através dos Emirados Árabes Unidos.

Além disso, os Emirados Árabes Unidos são grandes opositores do Islão político e querem absolutamente impedir que um islamista como Omar al-Bashir volte a assumir o poder no país.

"Isto é obviamente bizarro, porque tanto Abdel Fatah Burhan como Hamdan Dagalo são 'filhos adotivos' políticos do presidente deposto Omar al-Bashir, que seguiu um caminho islâmico. No entanto, a RSF está a tentar apresentar-se como opositora dos antigos quadros - e puxar os Emirados Árabes Unidos para o seu lado", diz ainda Peter. Em troca, a RSF recebe armas dos Emirados Árabes Unidos. 

Armas são também entregues através da Líbia, entre outros locais. Até ao Verão passado, esta missão era levada a cabo pelo grupo mercenário russo Wagner. No entanto, após a morte do seu comandante Yevgeny Prigozhin, em agosto do ano passado, a parte do grupo ativa em África mudou de nome: passou a chamar-se"Corpo Africano".

Aparentemente os mercenários russos também querem expandir a influência do seu país nesta região.

"No Sudão, a Rússia tem planos para construir uma base naval no Mar Vermelho - na artéria central do comércio global entre a Europa e a Ásia - desde 2017", de acordo com um relatório do jornal alemão TAZ, em março deste ano.

Sudão: A União Europeia podia fazer mais?

04:39

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Fim do conflito improvável

O cientista político Hager Ali, do Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais (GIGA), escreveu numa análise que é improvável que o conflito termine num futuro próximo uma vez que outras fações estão já a tentar derrubar a autoridade de Al-Burhan e Dagalo a nível local e a utilizar a guerra para interesses próprios.

Também na perspetiva internacional, o fim da guerra é atualmente bastante improvável, defende Ali. O Sudão está rodeado por grandes centros de contrabando de armas.

"Combustível, munições, armas e outros bens são contrabandeados através da Líbia, do Chade, da República Centro-Africana e através do Mar Vermelho. As armas também vêm do Uganda e do Sudão do Sul. Os Emirados Árabes Unidos e o Grupo Wagner estão a trabalhar em estreita colaboração para abastecer a guerra através destes países."

No primeiro aniversário do início da guerra, a União Europeia (UE) e países como a Noruega, França e os EUA apelaram às partes em conflito para que ponham fim aos combates e negociem um cessar-fogo imediato.

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